18 novembro 2012

Shaken, Not Stirred


Sempre (desde que me lembro) fui fã do 007. Lembro-me de assistir pequena aos filmes da saga e amar o espião (que nunca me amou, snif). Goldfinger é o primeiro filme que eu lembro de ter visto e gostado. Imagina pintar as pessoas de ouro para elas pararem de respirar? Genial.

Acho Sean Connery o melhor James Bond de todos. Seguido por Roger Moore e Pierce Brosnan (Mas aí acho que vou com a maioria, né?!). E amo o fato do James Bond ser um espião charmoso, sexy e fatal. Ian Fleming narra o espião mais famoso do mundo como um homem alto, moreno, de olhar penetrante, viril, porte atlético e sedutor, com idade entre 33 e 40 anos e apreciador de vodka Martini (batido, não mexido).

E aí vamos ao Daniel Craig que é baixo e loiro. Não acho que preciso escrever mais nada. Não gostei da escolha dele, prefiro e muito o Clive Owen para o papel. Ator britânico, moreno, alto (bonito e sensual...) e sedutor. Mas não posso chorar, pois não é ele que está no papel (e pelo visto nunca foi convidado, leia aqui ).

Bom, assisti ao Cassino Royale com várias ressalvas e não é que gostei? O filme é realmente muito bom, acho que por ser o primeiro escrito por Fleming e por isso pudemos entender o motivo de o espião nunca confiar em ninguém e visualizar as mulheres como simples objeto. E assim, aceitei Daniel Craig.

Mas aí veio Quantum of Solace que é ruim. Não gostei do filme (apesar de homenagear Goldfinger). Achei chato e arrisco dizer que foi o pior da saga. Apesar de a trama ser de vingança (o que eu adoro) ou por causa da trama ser de vingança, não acho que foi bom para o 007 esse filme.

Agora chegamos a Skyfall (que no Brasil foi traduzido como Operação Skyfall, quando nunca tivemos essa operação, mas enfim...). Amei a música da Adele e a abertura do filme é linda e me lembrou e muito os filmes mais antigos da saga. Para mim, a última música marcante havia sido “The World Is Not Enough” do Garbage (a última, mas não a única, hein?!) e a Adele veio com a Skyfall que é linda e ficou perfeita na abertura.

***SPOILER ALERT***

No filme, há uma perseguição de motos em cima do telhado que é muito boa e cria um clima de tensão muito bom. E 007 está mais loiro do que nunca no inicio desse filme. Ele “morre” por 5 meses e ressurge após a MI6 ser ameaçada por uma explosão, a M (vivida pela Judi Dench) ser ameaçada por um fantasma do passado e o nome de espiões ser revelado no youtube.

Achei as tramas paralelas do filme muito chatas (no fim se justificaram, mas não tive muita paciência) e uma discussão de “velho” e “novo” bem interessante e que foram feitas por vários personagens em momentos diferentes, mas atingiram mesmo somente um personagem especifico. 

O vilão vivido por Javier Bardem é muito bom. Louco ao extremo, com voz suave, expressões até um pouco femininas e super poderoso. Em um momento de uma conversa tensa com o Bond, em que é insinuado até que Bond já teve uma experiência homossexual (o que é totalmente compreensível), Silva (Bardem) se mostra tão poderoso que poderia fazer o ataque que quisesse onde quisesse e deixa até Bond escolher o que queria fazer. Silva explicou que era um 00 e preferido da M na sua época até perceber que era apenas mais um agente manipulável e se rebelou contra a MI6 e contra M, claro. O bizarro desse vilão é uma deformação no rosto e a falta dos dentes de cima, que ele esconde com uma dentadura muito bem feita.

A caracterização do personagem é uma coisa que me intrigou. Pensei em dois motivos pra ele ser loiro, primeiro: fugir da associação ao personagem de Onde Os Fracos Não Tem Vez e segundo (que eu acho mais provável e mais legal): ser o mais parecido com Bond possível. Por sua loucura e obsessão pela M, ele agora é loiro por que o Bond é loiro e é hoje o preferido da M.

Silva é capturado por uma bobagem de deixar o Bond armado e logo que ele aparece preso na MI6 eu pensei: ele queria ser capturado (fiz uma associação ao Coringa do excelente Cavaleiro das Trevas e pronto: ele também queria ser capturado.). E aí eu achei que o filme perdeu a mão. Silva obviamente foge e faz uma explosão no subterrâneo que faz um metrô cair quase em cima de Bond (me lembrou Bane explodindo o campo de futebol do Cavaleiro das Trevas Ressurge) e eu comecei a perder a graça do filme a partir do momento que eu o associei ao Batman.

Bond sempre clássico, em uma perseguição no metrô, enquanto Silva cai todo desajeitado, Bond cai de pé (o que acho ser uma das razões por que amamos Bond). Mas Bond resolve atrair o vilão para ele e por isso, “sequestra” M e a leva para Skyfall, que é o nome da sua casa (ou mansão). Na ida para Skyfall eles vão com o carro clássico de Bond (Aston Martin) e eu passei mal por que a cena é toda com a trilha original e clássica dos filmes.

Em Skyfall é revelado o nome dos pais de Bond e ele reencontra o caseiro que toma conta da casa desde que Bond era pequeno. As cenas na casa dele, apesar de nos revelar parte da história de vida do Bond, pra mim são horríveis. Quando M começa a trocar as lâmpadas por pregos e Bond começa a lacrar as janelas, eu rapidamente me recordei de Macaulay Culkin em Esqueceram de Mim e pronto, acabou uma parte do filme pra mim ali. Não gostei mesmo.

As explosões (tanto da casa quanto do carro) são ótimas, a entrada do Vilão na cena da casa é excelente, mostrando que sim, o vilão é louco. No final dessa cena, o vilão nos mostra que Freud explica seu problema/loucura/obsessão por M. Bond o mata com uma faca nas costas e M morre porque havia tomado um tiro (Dench se despede da serie após 18 anos).

Agora o final que deve ter deixado muitos fãs felizes! M agora será Ralph Fiennes (que eu amo) e a volta da querida Moneypenny que é um clássico na serie e eterna apaixonada por Bond (apesar de que ela nunca teve nada com Bond e nesse filme dá a entender que tiveram qualquer coisa).

Por fim, achei o filme uma mistura de Batman e Esqueceram de Mim com pinceladas de James Bond. 

26 outubro 2012

...tem gente que vai pra nunca mais...


Aquele momento que você percebe que já é sexta e que a semana que você queria que acabasse, acabou. Mas a pessoa que se foi nela não vai voltar. Que não adianta a pior semana do ano acabar se não trouxer de volta a pessoa que partiu. Que semana que vem vai começar e a pessoa não vai voltar.

E vida que segue. 

12 agosto 2012

Adorável Professor


Muito mais do que conhecimento teórico e técnico, um professor precisa de amor para repassar o seu conhecimento.


Semana passada eu tive a oportunidade de fazer um curso de Teoria, Linguagem e Critica Cinematográfica. Eu já havia feito uma matéria em um semestre na faculdade sobre cinema (História e Análise da Produção Audiovisual Contemporânea, a famosa HAPAC na PUC). Na faculdade, estudei sobre os irmãos Lumière, sobre Eisenstein e até fiz um videoclipe baseado no Expressionismo alemão a partir do “O Gabinete do Dr. Caligari” (que o youtube insiste em não me deixar publicar).

Acontece que a matéria que eu tive na faculdade não foi boa. Pelo simples fato de a professora não conseguir transmitir o conhecimento dela para a turma. Faltava entusiasmo ali e faltava querer passar o que já sabia para os alunos que não sabiam nada. Por isso, o semestre foi mal aproveitado.

Mas, o que eu quero com esse texto é enfatizar o curso que eu fiz na semana passada, ministrado pelo critico de cinema Pablo Villaça. O curso possui um cronograma que engloba crítica, narrativa, direção, montagem, roteiro, entre outros.

Foram mostradas cenas de vários filmes para que a turma conseguisse ver na hora o que tinha acabado de aprender (o que me fez fazer uma lista dos filmes que eu preciso rever e dos que eu preciso ver. Aliás, quem souber como consigo ver “Doze homens e uma sentença”, de 1957, eu agradeço).

 O que mais me surpreendeu no curso é a aula que enfatiza a psicanálise (sem nenhum spoiler aqui). A identificação do espectador no cinema baseado nos estudos de Freud e Lacan me deixou surpresa, pois não tinha conhecimento dessa visão.

No último dia do curso, o Pablo nos mostra como escreve suas críticas e nos orienta a escrevê-las o mais rápido que pudermos para conseguirmos colocar no papel aquilo que aprendemos durante os 5 dias de curso (que poderiam ser mais, pois o curso é muito bom).

E, é exatamente isso. Ele não precisaria repassar o conhecimento para ninguém. Poderia ser um crítico e só. Mas não, ele pode ser mais. Ele pode te ensinar o que ele sabe e faz. Ele pode te indicar todos os livros necessários e todos os filmes (vejam todos os filmes possíveis, ele diria). Ele pode inclusive te ajudar na carreira de crítico de cinema.

Isso é amor por aquilo que faz. Isso é segurança e certeza de um trabalho bem feito. E está aí uma característica que eu admiro no ser humano. A capacidade e, principalmente, a vontade de repassar o conhecimento adquirido durante a vida. E aí é preciso de amor, de gostar e ter paixão pelo trabalho que faz. 

31 maio 2012

E mesmo sem te ver...

"Segundo Aristóteles, a catarse refere-se à purificação das almas por meio de uma descarga emocional provocada por um drama."


Comecei a gostar de Legião na adolescência ou pré-adolescência, não sei direito como isso funciona. Nunca fui a um show da banda. Quando o Renato morreu, eu era nova e sofri junto com os “velhos” fãs. As músicas do Renato tocam a gente de uma forma indescritível. São letras lindas e profundas. Só quem gosta, sabe.

Quando a MTV anunciou que iria fazer o Tributo, eu nem dei muita importância. Evento em São Paulo (moro em BH), caro (R$200,00) e no meio da semana. Pra falar a verdade, só soube do dia que ia passar no próprio dia. Assisti sem muitas expectativas. Mas acho que por isso eu me emocionei mais. Não esperava nada do show, mas foi só começar que ali estava eu cantando as músicas e me emocionando junto com o público.

Assisti na terça e na quarta (pela televisão, né?!) e foi emocionante do começo ao fim. Vou escrever sobre o show de quarta, pois no show de terça o Wagner Moura desafinou (acredito que seja pela emoção, claro).  Mas no show de quarta-feira, ele pareceu mais contido (contido na voz, segurando mais a onda nas notas mais graves e não indo nas notas muito agudas, com isso desafinou menos). Enfim...

O show começou com Tempo Perdido (aqui você vê uma versão so cute do Wagner com a Aline Moraes no também so cute Homem do Futuro) e foi cantando vários sucessos da banda (28 músicas, eu acho, li em algum lugar): Teatro dos Vampiros, Geração Coca-Cola, Andrea Doria, Giz (!!!), Índios, Ainda é Cedo, Eu Sei, Monte Castelo (!!!), Pais e Filhos com Stand by Me (quem se lembra de Música para Acampamentos?) e tantas outras...

A música A Via Láctea foi cantada pela primeira vez em um show da banda e o Marcelo e o Dado deviam estar explodindo ao tocar essa música, imaginem: tocar a música que o Renato se mostrava doente? (...E essa febre que não passa e meu sorriso sem graça. Não me dê atenção, mas obrigado por pensar em mim...).

O público cantava todas as músicas junto com o vocalista, aliás, o vocalista deixou claro a todo o momento que era mais um fã dessa Legião Urbana. Um fã sortudo e alucinado. Dava pra ver o quanto ele estava feliz ali, cantando e segurando uma barra também (haja coragem pra aceitar esse projeto).

Na pausa do show, antes do retorno para o famoso “mais um”, o público começou a cantar Faroeste Caboclo, sozinho, sem banda, sem música. Era a voz de 8 mil pessoas cantando a música que sabem cantar há uns 10 ou 15 anos. Ali, em plena homenagem ao tributo, quase que um agradecimento pela banda, pelo o que o Renato Russo representou para uma geração (e ainda representa). Nem precisava de banda acompanhar, eram fãs cantando para os fãs. 

A banda voltou e cantou Será (última do repertório), mas não conseguiram (não poderiam) encerrar o show. Faltava cantar a música tantas vezes pedida. E Wagner já diz “Não ensaiamos essa música e não canto ela desde os meus 15 anos”. O público foi ao delírio. E a banda tocou com todos os convidados do show tocando (mesmo sem saber o que tocar) e Wagner cantou toda a letra e foi lindo (isso você vê aqui).

Não poderia ter final melhor para esse Tributo. Foi maravilhoso. Emocionante.

Foi uma catarse coletiva.
 

13 fevereiro 2012

Mais do Mesmo


 
Já parou pra pensar que as pessoas que admiramos não passam de grandes repetidores?
Repetidores de palavras e de ação.
E, não digo isso de forma negativa.
É apenas uma reflexão.
Ano passado, no mês de março, eu fui à São Paulo para ver o show da Shakira e adorei o show. Ela requebra horrores, canta demais e é de uma simpatia impressionante. Tem carisma e presença de palco absurdos.
O show foi excelente!
Todo mundo canta e dança o show inteiro e, no fim do show, quando a moça canta Waka Waka o público simplesmente não consegue ficar parado.
Voltei pra Belo Horizonte “Shakirizada”.
Quando veio a notícia de que ela cantaria no Rock in Rio, não só eu quis ir ao show, como recomendei a todas as pessoas próximas. Ela faz um espetáculo. Gosto de shows que “brincam” com o telão e com as luzes no palco.  Adoro observar a mudança de luz no palco e a mudança de figurino. Essas coisas em show sempre me fascinam. E, em shows internacionais, só aumenta o fascínio.
Mas, voltando ao Rock in Rio, por uma série de fatores, não pude comparecer presencialmente ao festival. Mas, como todo bom brasileiro, tenho a Rede Globo em casa eu voltei correndo do bar que estava pra ver a Shakira na televisão.
Acontece que o show foi exatamente igual ao show que eu vi. Com exceções para Estoy Aqui que abriu o show e a presença da Ivete Sangalo, o show foi o mesmo. A mesma rebolada, os mesmos gritos, a troca de “Eu te Amo São Paulo” para “Eu te Amo Rio” no mesmo pedaço da música (fora os te amo Brasil que foram os mesmos). Os mesmo pulo para a caixa de som no mesmo momento da música “Waka Waka”. Tudo sincronizado demais. Milimetricamente ensaiado e realizado.
E, assistindo ao show do Rock in Rio, eu perdi um pouco aquela magia do show.
Acho que devemos ver um show por turnê desses artistas ensaiados.
Fiquei pensando se o próprio artista não sente aquele “tédio” (eu sei que tocar pra 50 mil pessoas não é tédio, mas entendam) da repetição. Tudo igual a todo o tempo. É o mesmo show com as mesmas falas.
O bom pra ela é que é poliglota e, pelo menos além de trocar a letra da música de inglês pro espanhol (dependendo do país), ainda troca a língua que vai falar ao público, seja inglês, espanhol, português ou francês.
Mas, fora isso, é um grande teatro acontecendo ali.
Depois da fase revolta, eu entendi que é uma turnê mundial e que não dá pra inovar sempre. Só penso que faltou sair um pouco do ensaio ali. Precisa subir na caixa de som no mesmo momento da mesma música toda vez?
Como boa mulher de malandro que sou, comprei o DVD do show dela dessa turnê. Gravado em junho na França, é novamente o mesmo show, com o mesmo pulo na caixa de som, porém com uma música cantada em francês. De qualquer forma, tem o mesmo gingado em “Hips don´t lie” e a mesma energia em “Waka Waka”.
Mesmo com as repetições, é um show que recomendo.
Indo pelo mesmo raciocínio, em agosto de 2010, eu fui assistir a uma palestra do Caco Barcelos mediada pelo Marcelo Tas. Sabemos bem que o Marcelo Tas atrai um público jovem, adolescente e fascinado pelo CQC da band. Por aí, já podem imaginar que a palestra também tomou como palestrante, o mediador. Eu conhecia o Tas pelo Varela (procurem no Google, jovens), quando na faculdade de Jornalismo foram passados os vídeos das entrevistas dele. Mas, nunca tive curiosidade em saber da vida dele. Nessa palestra, soube que ele cursava engenharia e que tentava trabalhar no jornal da faculdade e quando conseguiu, não largou mais. Entre outras histórias sobre a sua vida, essa é a que eu mais me lembro. Pois bem, em novembro do ano passado, fui à Ouro Preto para o Fórum das Letras e, por coincidência, havia uma palestra do Marcelo Tas que estava lançando um livro sobre Educação (em conjunto com o Gilberto Dimenstein) e eu fui ver. O problema é que foram dedicados poucos minutos para falar sobre o livro e um excesso de tempo para falar sobre o CQC e sua vida. E, mais uma vez, escutei a mesma história sobre a faculdade de engenharia.
Pode ser pelo fato de eu não ser fã dele, mas achei um saco escutar tudo de novo. Puxa vida, não há mais nada pra contar? Muito chata essa repetição.
Fico pensando quantas vezes ele já não contou essa história e se ele já chegou ao ponto de pensar: “Puta que me pariu, ninguém tem Google aqui não? Preciso contar de novo que eu fiz engenharia?”.
Mas aí sou eu e minha falta de paciência. Acredito que ele deve ser uma pessoa paciente o suficiente pra repetir essa história durante uns 30/40 anos de vida...



Quando vi essa palestra do Tas, eu já estava pensando sobre esse texto, pois o faria todo em torno da Shakira. Acontece que o Tas caiu como uma luva nesse texto.
Mas tem mais: Um pouco depois dessa ida à Ouro Preto e, ainda divulgando o seu livro, o Tas foi ao programa do Jô justamente no dia que eu estava vendo. E aí propus a ele (mentalmente) um desafio: “Quero ver contar história diferente agora!”. E não é que ele contou?
A entrevista foi toda "inédita" para mim!
Se ele pode inovar no Jô, porque não pode inovar para o público?
Bom, uma pausa nesse texto repetitivo pra escrever sobre uma pessoa que eu já vi falando umas de seis vezes (pouco, eu sei), que é o Frei Betto.
Eu nunca, repito: nunca presenciei uma repetição de fala por parte dele. Ele sempre se mantém ao que é pedido na palestra e, sempre é bom o escutar (tudo bem que uma das "palestras" foi um casamento, mas enfim, foi linda a fala dele).
Acho fantástico quem consegue não ser repetitivo nas falas. Quem consegue sempre dizer algo diferente, relatar uma experiência diferente a cada momento.
Por isso, sempre vejo Frei Betto quando posso, porque ele sempre agrega alguma informação diferente para mim.
Texto repetitivo, não é?!
Tenham um bom dia!

12 janeiro 2012

Desabafo


Um ano de epifania sobre justiça, exclusão social e racial
Meu nome é Denise, tenho 27 anos e, depois de formar-me bacharel em Ciências Biológicas, decidi complementar minha formação com o curso de Medicina. A melhor forma de conseguir ingressar no curso seria por meio do vestibular, então me matriculei em um cursinho em fevereiro de 2010 e me inscrevi em mais de 10 vestibulares em instituições públicas no sudeste e em faculdades privadas em Minas Gerais. Logo no começo do ano veio a notícia que a UFMG adotaria o ENEM como primeira fase do processo seletivo. Percebi o desespero no rosto dos colegas, praticamente ninguém gosta do ENEM, e depois de fazê-lo descobri o motivo. A prova é cansativa, muitas questões são mal feitas, dão abertura para mais de uma resposta, os aplicadores são despreparados e o pior de tudo: para uma prova que discursa tanto sobre democracia, é um absurdo não serem permitidos recursos para as questões dúbias. Além disso, é impossível o aluno calcular quantos pontos tirou nas provas e conferir se a nota dada no site do MEC em janeiro está correta ou se há algum erro. Democrático? Justo? Eu não gostei de ser forçada a confiar no ENEM, até mesmo porque há muitos motivos racionais para não fazê-lo, como os escândalos de 2009, 2010 e 2011.
Outro problema encontrado nos vestibulares que fiz em 2010: as cotas. A UERJ separa 45% das vagas para cotistas, a UFF dá 10% a mais de pontos, a UFMG dá até 15% a mais de pontos. Em um piscar de olhos, um aluno inteligente que estudou um ano inteiro não é chamado para ingressar no curso pretendido porque outro aluno, cotista, também inteligente, mas que fez uma pontuação menor, ganha o bônus generosíssimo e passa na frente. Eu não teria problema algum com as cotas se elas fossem uma medida temporária, enquanto o governo realizasse uma reforma efetiva no ensino médio e fundamental. Acredito que o bônus generosíssimo a ser dado deve ser um aumento no salário dos professores de escola pública. Esse tipo de bônus, sim, ajudaria a resolver o problema da educação no país. Não concordo com cotas para negros, não vejo nenhum motivo racional social ou científico para uma quantidade maior de melanina em células epiteliais ser empecilho para um aluno demonstrar seu conhecimento em uma prova escrita, sem identificação pessoal, no Brasil. Isso é segregação étnica desmotivada. 
Os vestibulares realizados em 2010, com ENEM e cotas, ficaram muito distantes dos conceitos de justiça, transparência e ética, bem diferentes do que prestei em 2003 para o curso de Ciências Biológicas na UFMG, sem ENEM e sem cotas. Mas tudo tem um lado positivo. Pelo menos os meninos descobrirão mais cedo que nós não temos um governo decente e provavelmente nunca teremos. Aqui é cada um por si e Deus por todos, se é que, se ele existe, também não aderiu ao sistema de cotas.

*Emprestei um pedaço daqui para expandir uma opinião de lá do Facebook. A querida Denise Safe viveu o sofrimento que é passar por um vestibular hoje em dia e relatou nesse Desabafo.